terça-feira, 30 de setembro de 2008

No maranhão tem poesia

Teófilo Dias de Mesquita nasceu na cidade de Caxias, no Maranhão, a 8 de novembro de 1854. Era filho de Odorico Antonio de Mesquita e de Joana Angélica Dias de Mesquita. Faleceu na cidade de São Paulo, a 29 de março de 1889. Patrono da cadeira nº 36 da Academia Brasileira de Letras.

Pertencia à família do consagrado poeta Antônio Gonçalves Dias, de quem era sobrinho. Os primeiros estudos de Teófilo foram feitos no Liceu de Humanidades, em São Luís, capital da Província do Maranhão.

Em 1875 já residia no Rio de Janeiro, onde encontrou abrigo no convento de Santo Antônio. Completou sua formação cultural matriculando-se na Faculdade de Direito de São Paulo, na qual concluiu o curso em 1881.

Embora exercesse a militância na advocacia, dedicou-se, também, ao jornalismo, ao ensino e à poesia. Casando-se com uma filha de Martim Francisco, da família Andrada, ingressou na política, filiando-se ao Partido Liberal. Em 1885 era eleito deputado provincial.

Cultivou íntimas relações de amizade com Assis Brasil, Lúcio de Mendonça, Valentim Magalhães e, principalmente, com Afonso Celso de Assis Figueiredo Júnior, cujo pai, o visconde de Ouro Preto, seria o último presidente do Conselho de Ministros do Império, derrubado em 15 de novembro de 1889. A amizade com Afonso Celso Júnior, teve com conseqüência, a escolha de seu nome, como patrono da cadeira nº 36, da Academia Brasileira de Letras.

Da obra de Teófilo Dias merecem especial destaque:

  • Flores e amores - Caxias, 1874;
  • Cantos tropicais - São Paulo, 1878;
  • Fanfarras - São Paulo, 1882;
  • Lira dos verdes anos - São Paulo, 1878
  • A comédia dos deuses - São Paulo, 1888.

Colaborou Teófilo em "Província de São Paulo", em "A República", na "Revista Brasileira", de José Veríssimo e em outras publicações.

Lecionou Gramática Filosófica e Francês no Colégio Aquino. Sua poesia, influenciada, a princípio, pelos líricos franceses, foi, aos poucos, assumindo novas formas, de acordo com a tendência geral da época.

Na introdução ao poema de Teófilo Dias - "A comédia dos deuses" - o escritor português Pinheiro Chagas publicou o seguinte comentário:

"A língua portuguesa no Brasil, manejada por um escritor de pulso, como o senhor Teófilo Dias, enriquece-se de um modo estranho; toma nova fulgurações, como os pobres pirilampos da Europa, que na América do Sul se mudam em aladas estrelas. A metrificação variada, mas variada com arte infinita, presta uns misteriosos efeitos a algumas das suas cenas mais dramáticas".

A Matilha - Teófilo Dias

Pendente a língua rubra, os sentidos atentos,

Inquieta, rastejando os vestígios sangrentos,

A matilha feroz persegue enfurecida,

Alucinadamente, a presa malferida.

Um, afitando o olhar, sonda a escura folhagem;

Outro consulta o vento; outro sorve a bafagem,

O fresco, vivo odor, cálido, penetrante,

Que, na rápida fuga, a vítima arquejante

Vai deixando no ar, pérfido e traiçoeiro;

Todos, num turbilhão fantástico, ligeiro,

Ora, em vórtice, aqui se agrupam, rodam, giram,

E, cheios de furor frenético, respiram,

Ora, cegos de raiva, afastados, disperses,

Arrojam-se a correr. Vão por trilhos diversos,

Esbraseando o olhar, dilatando as narinas.

Transpõem num momento os vales e as colinas,

Sobem aos alcantis, descem pelas encostas,

Recruzam-se febris em direções opostas,

Té que da presa, enfim, nos músculos cansados

Cravam com avidez os dentes afiados.

Não de outro modo, assim meus sôfregos desejos,

Em matilha voraz de alucinados beijos

Percorrem-te o primor às langorosas linhas,

As curvas juvenis, onde a volúpia aninhas,

Frescas ondulações de formas florescentes

Que o teu contorno imprime às roupas eloqüentes:

O dorso aveludado, elétrico, felino,

Que poreja um vapor aromático e fino;

O cabelo revolto em anéis perfumados,

Em fofos turbilhões, elásticos, pesados;

As fibrilhas sutis dos lindos braços brancos,

Feitos para apertar em nervosos arrancos;

A exata correção das azuladas veias,

Que palpitam, de fogo entumescidas, cheias,

— Tudo a matilha audaz perlustra, corre, aspira,

Sonda, esquadrinha, explora, e anelante respira,

Até que, finalmente, embriagada, louca,

Vai encontrar a presa — o gozo — em tua boca.

CRÍTICAS: "(...) apesar de predominarem numericamente em sua obra os versos de inspiração romântica, as traduções e a poesia social, a sua validade é devida, hoje, aos poemas da primeira parte de Fanfarras, intitulada significativamente 'Flores Funestas(...)”.


À referida influência [de Baudelaire], devem provavelmente os seguintes traços:


1) concepção requintada do amor carnal;

2) certo satanismo;

3) forma apurada, mas calorosa;

4) incorporação dum sistema de imagens gustativas, auditivas, olfativas, tácteis, com

tendência para combinar de modo desusado as sensações correspondentes.


Tudo, girando em torno de um certo dinamismo próprio a Teófilo, e de certa atitude em face do erotismo - que impregna Fanfarras de modo tão absorvente, quanto o sentimentalismo ideal impregnava os livros anteriores." - Candido, Antonio, introdução. [1959]. In: Dias, Teófilo. Poesias escolhidas. p.2.

A poesia de Teófilo Dias é parnasiana e foi fortemente influenciada pela obra de Baudelaire. Segundo o crítico Antonio Candido, "apesar de predominarem numericamente em sua obra os versos de inspiração romântica, as traduções e a poesia social, a sua validade é devida, hoje, aos poemas da primeira parte de Fanfarras, intitulada significativamente 'Flores Funestas'.". Fanfarras é considerado, por muitos estudiosos, o marco inicial do Parnasianismo no Brasil.

"Teófilo Dias"

Moreno canibal, baixo e franzino,

Pagé d´imensa e formidável horda,

O seu rijo boré vibrando, acorda

O Pindo aos sons estrídulos de um hino.

Estruge a taba, com furor tigrino,

Do bodoque o caboclo enteza a corda...

E o tupi sempre vence, embora morda

A negra inveja, o dente viperino...

Seus "Cantos Tropicais" passam em festa,

Tribo de guaranis, que, passam em festa,

Correm movendo os plúmeos enduapes.

E apesar de vestido à européia

Seus versos, nos fastígios da epopéia,

Brandem todos fortíssimos tacapes.


Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa trindade parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.

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